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Devaneios de Miss L

01
Nov21

FUGIU DO ESQUEMA || CONTO DE TERROR


Miss L

Olá Nossos Devanienses!

 

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Lurdes era uma jovem Professora do Primeiro Ciclo. Tinha uma Filha, Lúcia, mas ela "infelizmente, sai ao Pai. O meu dom da escrita foi desperdiçado.", repetia vezes sem conta, com tristeza. 

Lurdes nunca se casou-me, após uma discussão, quando a Lúcia tinha perto de 4 anos, o Pai foi expulso da residência, visto que estava em nome da Mãe da sua Filha. Lúcia não tem lembranças do Pai, a única coisa que ouvia quando questionava sobre o progenitor, levava sempre um crítica "Para quê que queres saber? Porque, infelizmente sais ele e o meu dom da escrita foi desperdiçado?!" e começava a chorar. Lúcia cansou-se de perguntar pelo Pai.

Elas viviam numa aldeia, por ser mais barato, justificava Lurdes. Era uma casa isolada e fazia quilómetros todos os dias para ir voltar da Escola. Sempre cansada, afirmava. "Se ao menos, a minha pequena Filha me desse uma alegria. Nem que fosse um pequeno texto...", lamentava-se constantemente.

O tempo passou e no dia seguinte à noite de Halloween, Lurdes foi acordar a "preguiçosa" da Filha de quase 9 anos (fazia em Janeiro do próximo ano). Chamou-a da porta, como habituamente, mas a menina não respondeu. Ligou a luz, para ir chama-la mais de perto. Quando o fez, soltou um grito. Lúcia estava enforcada ao pé da janela com os lençóis da própria cama. O banquinho que estava no canto do quantro estava deixo dela, caído. Lúcia estava morta. Suicidou-se. 

 

Capítulo 1

Trinta anos depois...

 

Lurdes não tentou refazer a sua vida pessoal, mas sim dar mais importância ao seu trabalho. Não queria ter mais Filhos, nem que seja adoptado, pois não queria que ele tivesse o mesmo fim. Foi um trauma muito grande na sua vida, mas desistiu do apoio psicológico que tinha. Para ela não valia a pena, pois não trazia de volta a sua Filha. 

Lurdes tentava constantemente pensar na Filha como um pesadelo. Afirmava que isso a ajudava muito mais do que um Psicólogo. Estávamos na última semana de aulas da sua turma do terceiro ano. Lurdes sentia uum misto de tristeza e felicidade, visto que tinha pedido a reforma antecipada. Aquela era a sua turma especial e querida. Afirmava constantemente que foi a que mais gostou de trabalhar. Havia um menino de 8 anos que se destacava para a Professora, o Xavier. Ele tinha um talento nato para a escrita tal como ele. Para Lurdes era o Filho que ela merecia ter. Era completamente o oposto de Lúcia. Era o Filho perfeito para Lurdes. 

Xavier também gostava muito da Professora. Oferecia-lhe flores e fruta do seu quintal com uma grande alegria. Uns textos de vez em quando. Lurdes incentivava bastante o Xavier a escrever mais e mais. Afirmava que ele deveria treinar a escrita para não perder o seu talento. Xavier andava um pouco triste naquela semana. Ao sair, na Segunda-feira, Xavier disse à Professora que ia sentir muitas saudades dela. Ela negou dizendo que ele nunca ia sentir saudades dela. A criança não entendeu, mas estava com pressa para ir para casa, pois ia a pé. 

Lurdes voltou para casa, sem rotina. Nada tinha a sua espera, nem um gato felpudo. Havia pessoas que diziam que lhe fazia bem. Não queria, pois só imaginava, sabe-se lá como, o gato enforcado como aconteceu a Lúcia. Pousou as coisas na cadeira da entrada e deitou-se no sofá. Respirou fundo. Debalde. Levantou-se e foi para o seu quarto. Estava exausta. No quarto tinha na mesa-de-cabeceira, do lado esquerdo, um vaso com as flores secas e bem estimadas que Xavier lhe deu. Na primeira gaveta tinha uma pasta com os textos todos do menino. Só. Na gaveta seguinte não tinha nada.

Da outra mesa-de-cabeceira, pegou no seu chá, que prepara todas as manhãs, para o dia inteiro e bebeu todo o conteúdo da garrafa reutilizável. Pegou no seu livro de cabeceira "Velas acesas" de Charles Morgan e leu até o sono chegar, como fazia todas as noites.

"Velas acesas" era um livro sobre uma Família que, desde que se lembra, os seus entres queridos morreram no dia do seu aniversário. Sabiam que estavam condenados a morrerem no dia do seu aniversário, só não sabiam quando. Alguns, inclusive, morreram no dia em que nasceram. Mafalda, ao completar 18 anos, fugiu de casa e partiu para bem longe com o objectivo de fugir e esquecer essa maldição. 

Lurdes levantou-se para se arranjar para dormir, sem qualquer tipo de preocupações, pois já não tinha uma Filha para cuidar, nem um Marido, muito menos, um gato felpudo. Só ela e ela própria.

 

Capítulo 2

A semana passou muito rápido. Os Alunos, com a ajuda dos Pais, fizeram um lanchinho surpresa para a despedida da Professora tão querida. Lurdes mostrou-se feliz e emocionada ( tão exagerado que parecia que parecia fingimento). 

Agradeceu. Afirmou que tinha escolhido dois desenhos animados para verem em conjunto e uma actividade de escrita ( cada um escreve duas frases numa folha e o seguinte tinha de continuar com outras duas frases e assim sucessivamente. No final, um dos Alunos ia a frente e lia o texto todo.).

Os meninos não tinham marcado a sua vez na cantina e o da Professora foi cancelado para aproveitarem o tempo ao máximo com a sua Professora querida. Consolidaram o lanche com a ideia preparada da Professora. Todos os Alunos se divertiram, a Professora guardou o texto realizado pelos Alunos e o seu querido Xavier deu-lhe um "texto de despedida" como ele lhe chamou, uma caixinha de frutos silvestres e uma mini-rosa branca. 

No final, despediu-se de todos os Alunos pela última vez. O Xavier abraçou-a, com carinho, e preparava-se para ir embora.

-Xavier, gostas de chá? 

-Gosto muito, Professora.

-Eu tenho um chá delicioso no carro. Podes provar e se gostares, dou-te umas saquetas. - sorri de forma quase forçada. - E posso-te dar boleia até meio do caminho da tua casinha. 

-Não incomodo, Professora?

-Anda, querido.

A Professora deu a mão ao Aluno e foi até à garagem dos Funcionários docentes, mas por um caminho diferente do habitual e menos usado. Aliás, já pensaram em fecha-lo, por várias vezes por falta de uso. 

O Xavier pediu licença para entrar. Colocou o cinto. Lurdes sentou-se ao volante. Deu-lhe uma garrafa de plástico ( não reutilizável como é seu hábito há vários anos). Xavier agradeceu, bebeu e afirmou que adorou.

-Querido, tens ai uma manta ao teu lado. Podes colocar, ficas mais confortável e não, não incomodas nada. Usa à-vontade.

Xavier agradeceu. Pousou a garrafa ao seu lado. Encostou-se e adormeceu. 

 

*

 

Pouco tempo depois, parou e deitou-me a garrafa de plástico usada por Xavier no caixote do lixo mais próximo. Voltou ao carro e só parou na sua casa. 

 

Capítulo 3

Lurdes disse a Xavier que os Pais dele pediram para o ajudar a evoluir na escrita durante as férias. Ia ficar lá os 3 meses. O Xavier tinha de escrever um conto por dia. Após o jantar, ele tinha de ler o conto e Lurdes mostrava-lhe quais eram os pontos positivos e menos bons. Era uma ajuda mais prática. 

Lurdes foi visitada pela Polícia, mas não deu em nada, principalmente, devido ao Porteiro ter dito que o viu Xavier sair como sempre. Ele fez isso, porque estava lá só para receber o dinheiro ao final do mês e nunca estava atento. Simplesmente, não queria ser chateado, nem despedido. As procuras, para Lurdes, estavam em segundo plano. Aquele Porteiro, mesmo sem saber, ajudou-a imenso. A querida Professora estava livre de suspeitas e assim é que tinha de ser. Além disso, a casa não tinha qualquer tipo de televisão e a criança não tinha telemóvel, logo Xavier nunca saberia que tinha sido raptado. Aliás, os Pais eram muito ausentes, logo Xavier não deu importância ao facto deles nunca lhe ligarem. 

Lurdes parabenizava Xavier pelo seu desenvolvimento. Lurdes estava cada vez mais feliz pelo que fez. Não tinha qualquer tipo de arrependimento, bem pelo contrário. Xavier merecia estar com ela. Xavier só teria vantagens em estar com ela. O dom dele ia evoluir. Que mal tinha isso? Na cabeça de Lurdes, nenhum. Na realidade, tinha. O Pais estavam preocupados e todos os que o amavam. 

Lurdes não sentia que o que fazia era algo cruel, mas sim um favor que estava a fazer a Xavier e aos Pais dele. Além disso, oferecia-lhe alguns livros para o ajudar ainda mais. Sim, para Lurdes era uma ajuda e cada vez olhava mais para Xavier como o Filho que merecia. Em vez de Lúcia, deveria ser Xavier o seu Filho biológico. 

Lurdes estava cada vez mais obcecada. Xavier era dela e só dela. Lurdes prometeu à criança que ele será um grande Escritor. Isso deixava Xavier muito feliz e esperançoso. Ele dizia com orgulho que queria ser Escritor quando fosse mais velho. 

Lurdes estava cada vez mais feliz com o que tinha feito. A cada dia que passava, mais orgulhosa estava do que tinha feito. "Lúcia deverias ter sido assim. Se fosses assim, tudo estaria bem.", pensava Lurdes.

 

Capítulo 4

Xavier sentia-se tenso, nos últimos tempos. Ele achava que estava a sonhar com uma menina da sua idade que olhava para ele do canto do quarto de cabeça torta. Ele pensava que sonhava, pois ele sentia a presença, mas quando abria os olhos não estava lá ninguém. Estava assustado, mas tapava-se com os lençóis para se proteger. Respirava fundo e chorava baixinho. 

Xavier aproveitou esses "sonhos" para escrever:

A sombra do teu quarto

 

Todos os dias, o João falava sobre Joana. Toda a gente achava que era a sua Amiga imaginária e ria-se baixinho. Joana era real, mas era triste, pois a Mãe não mostrava amor por ela. O Pai só voltou depois do pescoço dela ficar torto. A Mãe dela dava-lhe comprimidos para dormir, misturados no chá, todas as noites. Um dia, ela acordou assim. A Mãe estava a chorar quando ela acordou. Tinha Polícias com ela quando a Joana acordou. Joana tentava dizer à Mãe que estava ali, mas ela não a ouvia ( como sempre). 

O Pai atravessou as paredes e abraçou a Joana, como sempre o fazia. Disse para a Joana para não tentar mais, com um sorriso. Perguntou ao Pai onde ele estava até agora. No terreno lá em baixo, disse ele, debaixo dele. Abraçou ainda mais a Filha e alisava o seu cabelo loiro.

Joana perguntou o porquê dele ter desaparecido quando ela tinha apenas 4 anos. Fui para o terreno, minha Filha, respondeu ele, A tua Mãe assim quis. Joana perguntou se era por causa dele não escrever bem como a Mãe queria muito e se ela ia também para o terreno. 

O João nunca viu o Pai de Joana. Joana estava sempre no canto do quarto do João à noite. Quanto ao Pai dela, ele não sabia. Joana estava sempre triste. João tentava abraçar a Joana e não conseguia. Um dia, a Joana foi-se embora. João tinha acabado de fazer 13 anos.

Quando acabou de ler, Lurdes pediu a folha do texto. Rasgou-a, de forma lenta e irritada. Mandou-o para o quarto e afirmou que ia dormir sem jantar. Que ele não sabia de nada. Reforçou que ele não poderia entrar no quarto fechado.

Lurdes foi para o quarto. Trancou a porta. Tomou um comprimido para dormir e adormeceu. 

 

Capítulo 5

 

Xavier desceu as escadas de manhã e Lurdes já estava sentada no sofá. Olhou para ele e o mesmo estava com um olhar e um sorriso sinistro (que só ela via), enquanto lhe dava os bons dias.

-Se voltas a olhar-me assim, mato-te outra vez. - afirmou Lurdes, calmamente.- Volta para o teu quarto. 

Xavier obedeceu assustado. Já no quarto, fechou-a, desfez a cama que fez antes de descer e fez uma corda para fugir. Saiu pela janela e avançou até ao portão. 

Viu a Lúcia e, finalmente o Pai da mesma, mas só teve tempo de responder ao adeus que lhe faziam. 

Quando viu um carro pediu boleia. Cumprimentou o senhor e pediu que o tirasse dali, por gentileza.

- Tu não és o rapaz que desapareceu?

- Não, senhor. Eu estive, com a autorização dos meus Pais, a ter aulas de escrita com a Professora Lurdes.

- O teu nome não é Xavier? 

- Sim, senhor. Conhece os meus Pais?

- Meu rapaz, vou-te levar até à Polícia e depois os teus Pais vão-te buscar.

Xavier acenou com a cabeça obediente. Quando chegou, a Agente encarregada do caso abraçou-o e questionou se estava bem e onde esteve durante este tempo todo. Confuso, disse o mesmo que ao senhor que lhe deu boleia.

A Agente levou-o para uma sala, ofereceu-lhe um bolo e pediu que contasse tudo desde o último dia de aulas. Xavier assim o fez. Até contou o conteúdo do texto rasgado.

-Sonhaste com a... a Lúcia?

-Sim.

-E ela contou-te isso tudo no... no sonho, Xavier?

Xavier voltou a confirmar. A Agente pediu a um Colega que chamasse os Pais e que ficasse com a criança.

Lúcia era a melhor Amiga de infância da Agente. A mesma exigiu cães patrulha para revistarem o quintal e os mandatos necessários para a situação. Faria aquilo pela Lúcia.

Foram buscar Lurdes para interroga-la. A Agente não conseguia olhar para a cara de Lurdes e foi chorar para a casa-de-banho. Enquanto Lurdes estava a ser interrogada por outro Agente. Lúcia apareceu à frente da Melhor Amiga de infância e disse que estava tudo bem, agradeceu e abraçou-a. Finalmente, tiveram a despedida que mereciam.

 

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